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A Morte e a Vida de Marsha P. Johnson

Resenha do documentário “A Morte e a Vida de Marsha P. Johnson” (2017), de David France

“Marsha, nós tentamos. É tudo que posso dizer”. Essa declaração, feita às lágrimas por uma grande amiga de Marsha P. Johnson mais de 20 anos depois da sua morte, representa perfeitamente a sensação de frustração e descrença que preenche qualquer um que assista ao documentário dirigido por David France e lançado em 2017 pela Netflix. A travesti e ativista dos direitos LGBT, considerada uma das fundadoras do movimento gay, foi vítima de agressão policial, prisões injustificadas e perserguições apenas por ser quem é, mas também - e principalmente - por lutar para que outros pudessem fazer o mesmo. E, ao contrário do cenário em que ela vivia, em paz e segurança.

A Morte e a Vida de Marsha P. Johnson é uma busca pela justiça e um grito de socorro, onde Victoria Cruz, ativista dos direitos LGBT e conselheira do Projeto Antiviolência de Nova York, decide reabrir o caso de Marsha. Em seu arquivo, consta que a causa da sua morte foi suicídio, mas tratando-se de um período de homicídios em massa contra a população travesti, drag queen e transexual, além das acusações de Marsha sobre estar sendo perseguida na época, Victoria não acredita nem um pouco nisso e parte para uma investigação pessoal.

Em 1992, ano da morte de Marsha P. Johnson, apenas em Nova York foram registrados 1300 crimes de ódio contra LGBTs. De acordo com dados levantados pela investigadora Victoria Cruz, cerca de 12 a 18% desses crimes foram por violência policial, deixando claro que Marsha, seus amigos e amigas não tinham com quem contar, além deles mesmos. Por isso, ao lado de Sylvia Rivera, co-fundou a S.T.A.R (Street Transvestite Action Revolutionaries), um espaço de apoio às jovens travestis e transgêneros, que foi responsável pela realização de uma série de protestos. Ademais, seus membros organizavam visitas a prisões e instituições de saúde mental, denunciavam maus-tratos a prisioneiros e ajudaram na formação do Comitê de Prisões da Comunidade Gay.

Porém, o documentário enfatiza também as falhas de comunicação e união dentro da própria comunidade LGBT. Apesar de Marsha P. Johnson, Sylvia Rivera e muitas outras travestis e transgêneros terem feito parte da linha de frente dos protestos por muitos anos, esse grupo passa a ser escanteado na busca pela igualdade dos direitos, chegando ao ponto de serem vaiadas e humilhadas em eventos que deveriam ser inclusivos e acolhedores, como a parada gay de Nova York. Dessa forma, A Morte e a Vida de Marsha P. Johnson aborda com maestria os mais diversos e controversos aspectos de uma luta que parece nunca ter fim.

Infelizmente, para Marsha e tantos outros grandes nomes do movimento LGBT da época, o fim dessa luta chegou apenas através de crimes de ódio e grandes tragédias, que marcaram a morte precoce de vozes que tinham muito a dizer por toda uma geração. Por sorte, alguns chegaram a ouvir - e até hoje ouvem, seja por histórias de amigos e familiares ou até mesmo pelo documentário de David France - os gritos de Marsha P. Johnson por revolução, gay power e justiça. Então, sim, Marsha tentou. Mas isso é apenas o começo do que pode-se dizer sobre ela.

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